Região clama pelo regresso do trem de passageiros

Vereadores, deputados, dirigentes sindicais e estudantes estão engajados em um movimento para trazer o trem de volta aos trilhos da região, como uma das alternativas para desafogar as rodovias e melhorar a mobilidade urbana

 

Uma alternativa aos congestionamentos das estradas e rodovias está sendo debatida amplamente na região, por meio das reuniões e audiências públicas realizadas pela Frente Parlamentar Mista em Defesa do Transporte Ferroviário de Passageiros das Regiões de Campinas e Jundiaí, movimento iniciado ainda em 2011, que pleiteia a retomada do trem no interior paulista.

 

Coordenada pelo vereador e presidente da Câmara de Valinhos, Lorival Messias de Oliveira (PROS), a frente esteve reunida em Vinhedo na última quinta-feira, 28, para mais uma audiência pública, reunindo vereadores de Hortolândia, Campinas, Americana, Vinhedo e Louveira a fim de debater com a população os benefícios desse tipo de transporte e, sobretudo, formas de conscientizar as autoridades sobre a importância de investimentos no setor.

 

“Desde o início sabíamos que não seria fácil, mas hoje, além de contar com o apoio da população, os estudos já iniciaram pelos órgãos competentes. Nós já temos a linha férrea que corta nossa região, seria necessário apenas alterar o contrato de concessão, já que no trecho está previsto somente o transporte de cargas”, explicou Lorival.

 

Para o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas, Ariovaldo Bonini, o trem só ainda não retomou a região por falta de vontade política, já que, segundo ele, os governos lucram muito com as montadoras. “O que adianta ampliarmos algumas faixas das rodovias se quando chegamos a São Paulo o gargalo é o mesmo? O Brasil é o único lugar do mundo em que a linha férrea só é usada para cargas, quando poderíamos ter as duas modalidades servindo toda a região”, criticou. “Gostaríamos da mesma agilidade na construção das rodovias para o transporte ferroviário”.

 

Carlinhos Paffaro, suplente de vereador em Vinhedo e um dos fundadores da campanha, salientou os avanços do movimento desde a sua fundação. “Um movimento que consegue arrebanhar e mobilizar cinco cidades, por si só já é vitorioso, mas ainda assim temos muitas vitórias a comemorar e ano que vem será um momento decisivo”, reforçou.

 

 Isso porque 2014 é o prazo informado pelo Governo do Estado por meio da CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - finalizar o estudo que está sendo feito e que deverá sinalizar a necessidade do trem para a região. “Por isso é imprescindível o apoio popular nesta campanha”, completou.

 

 

Transporte rápido, econômico e ecológico

 

As autoridades ressaltaram alguns dos benefícios do transporte ferroviário para a região, salientando a economia, como um dos principais motivadores – aproximadamente R$ 3,00 uma passagem. Todos que se pronunciaram se queixaram do congestionamento das rodovias e do tempo cada vez maior exigido para percorrer pequenas distâncias.

 

O presidente da Câmara de Vinhedo, Rubens Nunes (PR), lembrou que há cada vez mais carros nas rodovias e apesar disso, as estradas continuam as mesmas. “Sabemos da importância dessa campanha para a região e do esforço que vem sendo feito para retomada do trem. Quando sonhamos juntos nos tornamos grandes, contem comigo para essa empreitada”.

 

Também de Vinhedo, o vereador Hamilton Port (PROS), relembrou os bons tempos da ferrovia e de como o trem atendia com excelência a região. Porém indagou os presentes sobre a expectativa da campanha e seus avanços. “Não tenho idade para esperar a estrada de ferro, espero que meus filhos possam aproveitar pelo menos”.

 

José Antonio Mathias, diretor do Sindicato, disse que as expectativas são boas. “Hoje nós temos o projeto e a abertura de licitações para o estudo, além disso, há o clamor popular, que é p que vem dando resultado. É por isso mesmo que realizamos as audiências nas Câmaras. Sem o apoio popular não haverá trem”, salientou.

 

O vereador Cleuzer Lima, o John Lennon (PT) de Hortolândia, ficou entusiasmado com o movimento e pediu que as discussões fossem estendidas aos demais municípios. “As discussões devem ser ampliadas, vamos englobar mais cidades e regiões”.  

 

Para o vereador Profº. Luiz Renato (PCdoB) de Americana, o retorno do transporte ferroviário é antes de tudo uma “luta patriótica”. “É a primeira reunião que participo e com certeza terá meu engajamento. É uma pena nosso país ter adotado o modelo de desenvolvimento baseado na indústria automobilística, mas não podemos mais continuar com esse modelo”.

 

O vereador Nil Ramos (PROS) de Vinhedo também disse acreditar que o transporte ferroviário é o melhor para o país. “Estou com vocês, meu gabinete está aberto para essa luta”. Também de Vinhedo, o parlamentar Eduardo Gelmi (PMDB), expressou seu apoio a causa e sugeriu até uma Moção de Repúdio aos governos cobrando agilidade na execução das obras. “Se há o interesse da ALL nesse tipo de transporte [passageiros]  então não temos nem que fazer moção de apelo, mas sim de repúdio. Não dá para entender essa concessão, ela precisa ser revista urgentemente”.

 

“Eu era feliz e não sabia”, brincou Dr. Dario, vereador vinhedense (PSDB) ao relembrar de suas viagens de trem na adolescência. Com essas palavras, expressou seu apoio ao movimento.

 

 

Perspectivas para os próximos anos impressionam

 

“Em 2020 as principais rodovias vão parar”. Essa foi a conclusão do estudo apresentado pelo diretor da CIESP e Secretário de Desenvolvimento Econômico de Jundiaí, Gilson Pichioli, um dos grandes incentivadores do movimento.

 

Em sua apresentação ficou evidente a saturação dos eixos rodoviários e os problemas que virão. “A cada R$ 1 gasto com transporte público, R$ 12 são investidos no transporte particular”.

 

Citou o exemplo de grandes metrópoles e cidades desenvolvidas que, apesar de possuírem 1/4 dos moradores do Brasil, possuem o triplo de quilômetros de metrô.

 

Sobre os acidentes nas ferrovias, Pichioli disse que eles acontecem por não haver manutenção. “As empresas só exploram e não realizam a manutenção. Estamos com linhas sucateadas e não há ninguém para fiscalizar”, concluiu reafirmando o apoio da CIESP de Jundiaí ao movimento.